O que realmente acontece na troca de casais?
"Tenho o espírito livre, acho que ninguém é de ninguém e swing é fantasia, nada a ver com sentimentalismo. Para mim não existe prazer maior do que ver uma mulher fazendo sexo oral no meu parceiro, é um tesão louco!” F tem 45 anos e trabalha como comerciante em São Paulo. Autora da frase acima, ela acrescenta que tem grande experiência no sexo casual, mas que, ao contrário de muitos casais, prefere que haja o flerte antes do encontro físico.
“Sem dúvida nenhuma, sexo casual é ótimo e, sempre que pratiquei o swing, a iniciativa partiu de mim. Sinto muito prazer sendo observada, mas no momento estou solteira, então pratico menos do que gostaria porque o legal é justamente trocar e variar”, ela revela. Ela admite que, quando esteve em uma casa de swing acompanhada e um garoto de programa, se desapontou com sua própria reação: “Estava sem parceiro, então contratei um garoto de programa para me acompanhar e transei com mais de um cara naquela noite, mas confesso que não senti prazer algum. Só funciono com uma boa paquera antes e esses lugares são meio escuros”, lamenta.
Ainda assim, F. aponta a falta de envolvimento como o maior benefício dessa prática em que casais ‘emprestam momentaneamente’ seus parceiros para que transem com outra pessoa, geralmente pré-determinada e selecionada em conjunto. É comum rolar sexo entre os quatro participantes, um transando com o par do outro, mas pode acontecer de um querer só olhar, o outro só se masturbar, enfim, nada é obrigatório. “Na troca de casais, as pessoas são muito livres e não existe um modelo de como fazer, é só respeitar a vontade do outro e a sua, essa é a única regra”, conclui F.
A. organiza festas temáticas de troca de casais no Rio de Janeiro e concorda com F.: “A única regra numa balada liberal de swing é respeitar o direito do outro de não fazer nada. Na festa nós usamos o sistema de pulseiras para sinalizar a preferência de cada um. Isso serve para evitar abordagens indesejadas”, esclarece a coordenadora, que já tem uma frase pronta para ‘educar’ os novatos que chegam à balada: “Sexo desejado não significa sexo realizado. Com isso quero explicar que o fato de alguém estar numa balada liberal não significa que tenha direito adquirido de transar com quem quiser. Tem que haver paquera e consentimento total. Nós orientamos a todos os recém-chegados sobre isso e a quantidade de problemas dessa natureza é muito pequena. As mulheres sabem dizer não quando não querem. Mas também quando elas querem...”, diverte-se A..
Para o sexólogo Amaury Mendes Junior, praticar o swing passa longe de infidelidade. “Infidelidade significa trair e o jogo de troca de casais não é considerado em tese como um ato de traição, pois as regras são claras e ninguém pode se considerar enganado. Se em casa cada um transar pensando em outra pessoa, não seria traição? Então por que não ser claro e tentar curtir esta fantasia de maneira que seja possível manter a relação e abrir o jogo de ambos os lados?”, ele questiona. E completa: “Existem muitos casais agindo desta forma. O swing reflete um jeito diferente de encarar o sexo. Sabemos que mesmo um relacionamento sério não barra a imaginação das pessoas e cada um cria inconscientemente uma forma de excitação fantasiosa para incrementar uma noite de amor. Não vejo motivo para o casal não compartilhar essa fantasia”.
Prazer dobrado. Problemas, idem De fato, os números são representativos. À festa semanal carioca que acontece em plena quinta-feira comparecem entre 200 e 400 pessoas. Já uma das casas de swing mais antigas de São Paulo, instalada no bairro de Moema há 13 anos, recebe uma média de 800 pessoas por semana. O gerente de lá, conhecido por ‘G.’, conta que a grande maioria dos frequentadores são casais, mas que mulheres e homens sozinhos aparecem sempre. “São pessoas liberais, para as quais o sexo tem grande importância. No início, a idade dos visitantes era acima de 40 anos, mas hoje em dia é bem variada, com muitos jovens. Uma enorme parte dos clientes é casada, mas há também noivos, namorados e mesmo casais de amigos”, ele conta.
Além de gerente, G. faz o papel de cupido apresentando e aproximando os casais interessados. Ele garante que as mulheres não estão ali só para agradar aos maridos, não. “Hoje, a mulher que frequenta casas de swing sabe separar sexo de afeto e está ali porque também gosta. Talvez no começo do funcionamento da casa, há mais de dez anos, elas fossem mesmo meio a contragosto, mas hoje não”, conclui o gerente.
Na opinião de Cristina Godoy, psicóloga clínica, hoje a mulher já consegue separar amor e sexo. “Porém, quando se trata de swing não falamos de sexo sem compromisso, mas sim de abrir a relação para que novas pessoas possam se aproximar. A independência da mulher fez com que ela pudesse rever valores, inclusive os da relação. Há 30 anos, o maior valor que a sociedade reservava à mulher era o casamento, hoje isso mudou. A mulher já investe sexualmente na relação e, se o parceiro não tiver interesse em cumprir seu papel, a mulher cobrará ou buscará formas de obter satisfação”, avalia a psicóloga.
Ela vai adiante: “A sensação de medo também é excitante em muitos casos, pois libera adrenalina e nosso cérebro interpreta isso como prazer. Numa relação estável e socialmente aceita essa sensação de frio na barriga só existe no começo. Depois que a novidade acaba e a libido do casal provavelmente já está meio em baixa, algumas pessoas terminam a relação, outras buscam incrementá-la”, conclui.
Segundo as entrevistadas, assim como toda experiência sexual, o swing possibilita provar coisas novas e assim ter mais parâmetro para avaliar o que traz prazer e o que não traz sem se preocupar muito com o que o outro pensa de você, se concentrando em seu próprio prazer. “O sexo, tanto praticado quanto presenciado, é muito excitante! Meu pensamento fica todo voltado para aquela cena e cada suspiro ou gemido do outro é um convite ao prazer em conjunto. É como ver um filme pornô, só que bem melhor porque é realista e está ali na sua frente, ao vivo e em cores”, brinca a fisioterapeuta B., outra adepta do troca-troca.
Em turma, sozinha ou com seu parceiro, todo cuidado é pouco ao se aventurar no swing. É claro que não estamos falando só de questões práticas básicas, como o uso do preservativo, mas também de ter tudo muito claro em sua cabeça e/ou muito bem conversado com seu par, pois o estrago pode ser tão grande quanto o prazer. “Creio que um casal que entra no mundo do swing precisa ter um diálogo sincero, muita confiança no outro e um vínculo bem estabelecido. Casais em crise, com uma comunicação deficiente, ou questões pendentes, como insegurança, desconfiança e mágoas passadas dificilmente sairão ilesos. É preciso ter objetivos em comum, muito bem conversados. É um grande engano entrar no swing quando já se tem um problema no casamento, achando que, com a novidade, irá resolvê-lo ou apagá-lo. O ideal é que o casamento esteja fortalecido para aguentar o que o casal vai viver”, alerta a psicóloga.
A lógica do swing
Aos 55 anos, a publicitária curitibana S.* está no terceiro casamento e descobriu com o atual marido a troca de casais, há quase seis anos. Ela conta que sempre tem algum laço de amizade ou afeto com os companheiros de swing, que procura encontrar semanalmente. “Temos um grupo de quatro casais amigos, com uma relação muito estreita e de muito carinho. É um grupo em que todos têm grande afinidade. É uma espécie de namoro entre vários”, ela ri.
Para ela, a lógica do swing é muito simples: se o sexo com uma pessoa certa é gostoso, o sexo com muitas pessoas certas é o paraíso. Por fazer questão de parceiros íntimos do casal, nem ela nem o marido frequentam casas de swing. “Não gostamos de casa de swing porque geralmente o sexo é mecânico, extremamente casual, num clima barulhento. Preferimos nossa casa de campo onde, às vezes, um de nós transa com alguém no quintal enquanto o outro está transando no quarto. Ambos adoramos um relato detalhado e criativo de todos os requintes de prazer que foram usados nas transas com outros. Tem gente que fica chocada com isso, mas na nossa visão o errado é a monogamia. As religiões e a repressão social levaram o ser humano contra o mais gostoso e saudável de sua natureza”, ela critica.
Solange garante que a relação está cada dia melhor, mas alerta que não é receita de felicidade válida para todos os casais. “No nosso caso, estou certa de que estamos chegando ao máximo da felicidade possível para um casal, mas é uma fórmula que não dá certo para todo mundo de jeito nenhum! As pessoas que escolhem o swing para botar uma pimenta na relação ou mesmo ‘brincar com sua resistência’ acabam abandonando e até virando puritanos. Conheço casos de homens que não aguentaram ver suas esposas com outros e pediram o divórcio no mesmo dia. Outros bateram no rapaz que transava com sua mulher. Até houve quem se afastou da vida sexual e caiu na bebida”, conta.
A prática do swing é para qualquer pessoa, não é coisa de atletas sexuais. No entanto, devem ser pessoas abertas e o casal precisa de muita conversa antes da ação para que tudo fique claro e a vontade de arrancar os cabelos (seus ou da outra) não fale mais alto que a curtição de sentir prazer vendo o outro ter prazer. A psicóloga finaliza: “Quem se achou nessa prática é porque já entendeu que o impensável é ser enganado. No swing, a situação de sexo com o outro se dá num ambiente em que tudo acontece às claras, por isso é mais fácil abstrair o ciúme. Nessa hora prevalece o prazer e a fantasia, e o principal são as regras claras. Antes de se adaptar a uma novidade como essa, qualquer casal deve ter bem conversadas suas expectativas e limites em relação ao que estão buscando com a troca de casais”.